Lacan, em seu seminário XI, conta-nos que é o desejo quem comanda a abordagem psicanalítica: “desidero é o cogito freudiano”. Desejar, segundo a psicanálise, é o que nos torna sujeito dessa existência.
Ao longo de uma análise, vai se percebendo que o desejo habita em um lugar indeterminado, difícil de nomear.
“O que deseja um sujeito?” - Aqui, de novo, revela-se uma diversidade de possibilidades de nomes que visam contemplar isso que se pode querer. Mas,em todas as suas formas, Lacan evidencia que o desejo é elemento eternamente em conflito, atravessado pela impossibilidade de satisfação e velado do conhecimento.
O desconhecido nos convida a buscar conhecer; e, na busca, ensina-nos que não se trata tanto assim de conhecê-lo, mas de continuar buscando-o.
O desejo incita o movimento da vida - de transformação -, fazendo de si mesmo outra coisa, e outra, e depois outra - coisa essa que escorre pelos dedos e escapa ao discurso.
Encontrar-se com o desejo é perceber que ele é vazio, e, a partir disso, se dar conta de que é o vazio quem dá vazão para que o que foi se torne outra coisa, e outra, e depois outra - de novo..
Num movimento de cortes e costuras, de inícios e fins, de vidas e mortes, a existência vai ganhando contorno por causa das suas diversas transformações de isso para aquilo, numa dança, desritmada, de desejos.
Agosto/2023.
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